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4 de out. de 2011

Nossas Primeiras Derrotas


Vovó Em Rubro-Negro

Era sexta-feira e eu saí da faculdade correndo, louca pra chegar em casa. Peguei o ônibus, estava quase cheio e com poucos lugares para escolher, sentei ao lado de uma senhora já de bastante idade, na qual, sem muita demora, já puxou conversa comigo. Logo nas primeiras palavras trocadas vi que se tratava de uma flamenguista doente. E numa segunda impressão, quando vi seu chaveiro com o mascote Urubu, confirmei. Durante a viagem, ela me contou sobre fatos de sua vida e sua família e não demorou muito para falar uma de suas paixões: o time do coração. Me falou em grande parte sobre como é feliz em torcer para o Flamengo. Seus olhos pequeninos exaltavam amor e experiência, enquanto me contava das glórias e momentos marcantes que viu o time da Gávea conquistar. Me falou também da diferença do torcedor Rubro-Negro e as reações que isso provoca no Rio de Janeiro, no Brasil e pelo mundo afora. Suas palavras eram de uma sensatez magnífica, soando como um espetáculo aos meus ouvidos.

Particularmente, eu estava maravilhada com tudo que aquela senhora me dizia e com uma raridade incrível, desejei que aquela volta para casa demorasse um pouco mais. Muito clara no que falava, abriu sua bolsa, que por sinal tinha um escudo do Fla bordado na frente, e me mostrou uma foto que levava na carteira com seu filho e seus dois netos vestindo o Manto na final do Brasileiro de 2009. Enquanto eu observava a fotografia, ela comentava a alegria desses netos, ainda pequenos, de ver aquela emoção de uma final com o Maracanã todo em vermelho e preto.

Na medida que eu queria conhecer mais suas histórias, a viagem chegava ao fim. Na saída do ônibus, ela me disse: 

"Você é nova, menina. Ainda vai chorar e sorrir muito com o Flamengo. 
Sorrir principalmente, porque torcer pra esse clube é bom, ganhando ou perdendo. 
Você, como flamenguista, entende que só quem é, 
sabe que o nosso Mengo é paixão pra vida toda." 

Um pouco emocionada, senti minha boca abrir pra dizer algo como: "Essa é uma das únicas certezas que eu tenho, até morrer". Ela me deu um sorriso cansado, porém confiante e se despediu. Eu dei um sorriso agradecido, com o olhar que, por ora, imaginei estar brilhante. Uma simples vivência com uma figura ilustre... E claro, mais uma flamenguista de levantar aplausos e tirar o chapéu.

Texto publicado em seu facebook.
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Este episódio ocorreu no último dia 16, no trajeto Niterói/Magé. Foi um momento tão encantador, que a Tamara nem ao menos perguntou o nome da senhora. Merecia uma foto, claro, mas não houve tempo pra pensar em nada disso, apenas pra viver a pura magia rubro-negra daquele momento. Você deve conhecer outros casos assim, mas já percebeu todo o encanto que há por trás?

Gostaria de ter cravado na minha alma todas as glórias e derrotas vividas pela vovó rubro-negra. E esta conversa delas me faz reviver alguns momentos, entre eles um tal jogo de 1995. Meu pai e eu, com 9 anos, na companhia do Manto, vendo um time florido dar uma barrigada na nossa alegria em pleno centenário. Na manhã seguinte, saindo pra jogar bola na rua com aquela imagem forte na mente, vi uma charge do Renato Gaúcho dando uma barrigada no Romário, e este indo pro gol, colada na fachada do boteco da esquina. Aquilo me deixou tão furioso que fui correndo pra casa chorando. Me escondi da minha mãe e fiquei relembrando aquelas cenas com raiva e lágrimas.

O que uma criança faria pra aliviar a dor? Poderia ter chamado minha mãe, mas se ela já me ameaçava por gritar e xingar vendo o jogo, com certeza me bateria por chorar por uma coisa tão "fútil". Poderia também ligar a televisão, mas era arriscado demais. Sem saber que ficaria na minha mente até hoje, não queria ver tudo aquilo de novo. Ir pra rua brincar? Não queria ver mais charges na minha frente, notícias, piadinhas dos amigos... Nem ao menos poderia cantar o hino. Imagina uma criança cantando naquele momento que o Mengo era o mais cotado nos Fla-Flus? Impossível. Não havia nada a ser feito, somente esvaziar sozinho aquela tristeza de gente grande.

Estas foram minhas primeiras e inesquecíveis lágrimas em vermelho e preto, mas sem saber, na época, que foi nesse dia de dor que descobri meu amor pelo Flamengo. Daí, lembro da tal senhora falando essas palavras pra Tamara com tanta paixão e encanto, pessoas que nem ao menos se conheciam, num momento de tantos problemas em comum.

Ficar 8 jogos sem ganhar, sendo 4 derrotas seguidas, depois de uma série de 8 meses praticamente invictos, e ainda ver o sonho do Hepta escapar entre os dedos, é difícil pra qualquer um (e estamos superando agora). Mas naquele momento, a vovó, com toda a sua fé e sabedoria, disse o que todos nós jamais deveríamos esquecer. Existe uma história, por trás das nossas cores, repleta de glórias, superações, muita luta... Ensinamentos de vida do nosso amado Flamengo.

Saudações Rubro-Negras   

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Renato Croce (Alexi Lalas
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Imagem 1: Clovis Lima
Imagem 2: Google com adaptação de FlaManolos

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"Eu queria ser um poeta para poder te explicar,
mas não consigo traduzir o sentimento de amor que a gente tem pelo Flamengo."

---Outros posts do FlaManolos---
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8 comentários:

  1. Lindo post!!! Emocionante mesmo...o Flamengo é assim,as alegrias não se resumem em vitórias em campo,mas no dia-a-dia também!!!
    Parabéns pelo post Tamara!!!

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  2. sensacional você falando de quando era moleque!!!!!
    flamengo a gente aprende a amar assim, e as glorias nao param!!!

    SENSACIONAL!

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  3. Esse tipo de vivência eu não quero esquecer nunca! Muito bom seu post de quando ainda era um menininho, esse tipo de paixão já começa cedo e só tem a crescer, não é verdade?
    Fiquei surpresa por ter colocado minha histórinha aqui. haha

    E obrigada Renatha, queria ter conhecido mais essa "vovó" Flamenga.
    SRN!

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  4. Ahh, se eu tivesse uma avó assim. ahushaushaus
    Parabéns pela postagem!

    Vini Espíndola/CE

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  5. Obrigado a todos pelos comentários.

    Tamara,
    Essas são coisas simples que vem sem preço. Esse tipo de coisa deve ser sempre proliferado, pois é o puro amor rubro-negro.

    SRN

    @RenatoCroce

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  6. O Blog tá muiiito bom' Parabéns' Estou seguindo'
    Sigam o meu também: http://maelycampos.blogspot.com/

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  7. Esse post é simplesmente maravilhoso, Renato, os dois textos são dividos e refletem a magia que é ser rubro-negro. quem é não deve se esquecer disso jamais...ha, como se tivesse como
    mexe com tudo, com todos os sentidos...abala o emocional e nos faz transcender a tudo que é considerado normal
    é, ser mengão é fazer parte de um grupo de prinvilegiados...só quem é sabe

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Uma vez Flamengo, sempre Flamengo.