27 de fev. de 2012
Centenário de Glórias - Moderato
Até onde vai o amor de um jogador por um clube? Pensar nisso hoje em dia parece até loucura, pois esse "amor" acaba quando pinta a primeira proposta irrecusável, mas antigamente existia amor ao clube. Como vimos aqui na série Centenário de Glórias, Píndaro voltou atrás da sua aposentadoria para atuar pelo Mengão em 1920. E como veremos nos próximos posts, Valido, em 1944, fez a mesma coisa. Mas Moderato fez algo inimaginável: arriscou sua vida em campo pelo Flamengo.
Moderato foi um ponta-esquerda que defendeu o Manto Sagrado de 1923 a 1930, marcando 27 gols em 147 jogos. Conquistou os Cariocas de 1925 e 1927. Foi com o Manto que atingiu o ápice de sua carreira, o que lhe rendeu a convocação para a Seleção Brasileira em 1925. E segundo Flávio Costa, ex-técnico do Mengo com mais de 700 jogos e companheiro do Moderato nos gramados, ele foi o maior ponta-esquerda da história do futebol brasileiro.
Moderato era gaúcho e começou sua carreira em 1920, sendo contratado pelo Mengão em 1923. Fez sua estreia em 27 de maio, numa goleada de 4 a 1 sobre os Chorões. Ele encantou a torcida com seu futebol, mas só conquistou seu primeiro título 2 anos depois, o Carioca, atuando ao lado de grandes nomes, como o grande zagueiro Penaforte e Nonô, um dos grandes artilheiros do clube. Nesse mesmo ano, Moderato conquistou outros quatro títulos menores, mas seu grande momento ainda estava por vir.
Iniciamos o Carioca de 1927 enfraquecidos. O clube havia dito ao Paulistano que emprestaria o campo da Rua Paysandu pra treinarem. Então, a liga carioca disse que suspenderia o Flamengo, caso isso se confirmasse. Como os clubes tinham uma boa relação, o Mengo manteve a palavra e cedeu o campo. Acabamos suspensos por um ano. - Disputar um campeonato sem o Flamengo? - Jamais. Nossos dirigentes, os torcedores e os próprios clubes do campeonato pediram clamorosamente o nosso retorno. A liga não teve pra onde correr... O Mengão, já em 1927, era a alegria do povo!
Com a suspensão, inicialmente, o time foi desfeito, pois ninguém queria ficar um ano parado. O time foi montado às pressas, formado por uma mistura da nossa base e jogadores aposentados, do Flamengo e de outros clubes. Tivemos um início ruim, chegamos a tomar até goleadas, mas com muita raça conseguimos uma reação inacreditável no campeonato, vencendo quase todos nossos adversários. O título foi decidido entre Flamengo, América e o FlorminenC. O Mengo e o América se enfrentariam no último jogo do campeonato, na época de pontos corridos. Assim, o vencedor seria o campeão.
Após uma crise de apendicite, Moderato foi submetido a uma cirurgia. Vale ressaltar que na época era uma cirurgia delicada, já que os avanços na Medicina ainda eram limitados. Mas sabendo da importância do jogo, e ainda mais, da sua importância para o time, o ponta-esquerda, ainda debilitado, foi para o jogo decisivo com uma cinta para proteger os pontos da cirurgia, que tinha realizado apenas alguns dias antes.
O Flamengo começou o jogo na frente, com gol de Nonô. No início do segundo tempo foi a vez de Moderato marcar, 2 a 0. O América diminuiu e começou uma pressão pelo gol de empate. Tínhamos um time limitado, mas depois de passar por tantos obstáculos, não poderíamos tropeçar no último. Foi aí que nasceu a mística de que a camisa jogava sozinha. O Mengão fez valer toda a sua mística e aguentou a pressão do América. De forma heróica, conquistamos o Campeonato Carioca de 1927, mais um lindo capítulo da história do Flamengo. Um ato de heroísmo que, para todos os rubro-negros e amantes do futebol, jamais se apagará.
Moderato se tornou ainda mais do que um ídolo do clube, tornou-se um herói! Nas palavras de Ruy Castro: "A idéia de que Moderato pudesse morrer em campo, com os pontos estourados e o sangue confundindo-se com o vermelho da camisa, tudo isso pelo Flamengo, era demais para o homem comum”. Não consta em registros oficiais, mas teria ido pro jogo exatos 2 dias depois de ter aberto a barriga na mesa de cirurgia. Heroísmo inimaginável nos dias atuais! Amor ao Manto Sagrado!
Moderato tornou-se o primeiro gaúcho a ser convocado para a Seleção Brasileira, sendo chamado para disputar a Copa do Mundo de 1930. Jogou apenas uma partida, contra a Bolívia, e fez 2 gols, tornando-se o primeiro jogador do Mengão a ter disputado e a ter marcado um gol pela Seleção em Copas. Após a Copa, Moderato deixou o Mengo e retornou para sua cidade natal, jogando por lá e se aposentando 2 anos depois.
Sua morte foi em 1986, com 83 anos, mas Moderato sabia que estava eternizado. Ele escreveu um capítulo em nossa história que orgulha a Nação e enaltece o Flamengo, e é isso que a série Centenário de Glórias continuará buscando. Moderato foi mais que um jogador, foi mais que um dos maiores da sua posição. Moderato foi um verdadeiro herói do Clube de Regatas do Flamengo.
Nota: Pedimos desculpas pela qualidade das imagens. Infelizmente, apesar de muita procura, incluindo amigos colecionadores, pesquisadores e o próprio Clube de Regatas do Flamengo, não foi possível localizar imagens melhores. E agradecemos ao CRF, que gentilmente nos enviou imagens de seu acervo.
Saudações Rubro-Negras
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"Eu queria ser um poeta para poder te explicar,
mas não consigo traduzir o sentimento de amor que a gente tem pelo Flamengo."
Que o espírito de Moderato contagie alguns desses atuais jogadores do Mengão! Estão precisando de um exemplo desses de dedicação e amor ao clube.
ResponderExcluirCom 10% dessa entrega já seria suficiente para irmos bem longe... quem sabe pro Mundial no fim do ano, rumo ao bicampeonato?
SRN!
Nem ao menos sabia quem era esse cara!!!
ResponderExcluirNão tinha como não favoritar!!! Merece ser lido, relido...
É o tipo de história que nos orgulha demais!!!
Valeu Flamanolos!!!!
Chorei lendo esse texto..... LINDO, LINDO, LINDO!
ResponderExcluirTenho muito orgulho de ser Flamengo!
Vou mostrar isso aos meus amigos aqui da Inglaterra.... Eles precisam saber que Flamengo não é feito só de Zico.
Parabéns pelo site!
Monique Alves - Londres/Curitiba
Lindíssima história do Mais Querido. Essa atitude do Moderato é, realmente, inimaginável nos tempos atuais. Aliás, na própria época já era raro. São de ídolos assim que o clube e a torcida precisam valorizar.
ResponderExcluirHistória fantástica! É pra guardar com carinho e mostrar aos nossos filhos, passando de geração pra geração, sem nunca deixar morrer.
Enquanto houver amor ao Flamengo, nossos ídolos, que ajudaram a construir nossa história, viverão.