13 de mar. de 2012
Centenário de Glórias - Leônidas da Silva
Há duas semanas, saiu uma matéria sobre o Juan, ex-zagueiro do Mengão, dizendo que ele foi vítima de racismo na Itália, no clássico entre Roma e Lazio. Atitude sempre reprovável. O preconceito no futebol ainda existe, e felizmente tal ato passa longe da Nação. Muito disso devemos a Leônidas da Silva, um dos maiores craques do futebol brasileiro, ídolo do Flamengo e personagem deste post da série Centenário de Glórias.
Leônidas teve uma infância simples, onde jogar futebol ocupava grande parte de seu tempo. Em 1922, com a morte do pai, foi adotado pelos patrões de sua mãe. E como seu pai adotivo tinha um bar perto do campo do São Cristóvão, Leônidas passou a jogar nas categorias de base do clube. Jogou em vários clubes do subúrbio carioca, se destacando no Bonsucesso, onde jogou até basquete.
Passou pelo Penãrol (URU) e pelo nossos eternos vices, Vasco e Botafogo. Em 1936, depois de muita insatisfação com o Botafogo, pois ficou 6 meses encostado pelo único fato de ser negro, foi contratado pelo Mengão, ajudando a quebrar o preconceito. Ele foi um dos primeiros jogadores negros do Flamengo. Vendido por apenas 5 contos de réis, uma mixaria na época, se sentiu humilhado e desprezado, e botou em sua cabeça que iria arrebentar com o Manto Sagrado e mostrar para todos que era um craque diferenciado.
E foi no Fla que Leônidas se consagrou, sendo artilheiro dos Cariocas de 1938 e 1940, e principal jogador na campanha do título de 1939. Foi convocado para as Copas do Mundo de 1934 e 1938. Na França, ele acabou como artilheiro e melhor jogador. E dois fatos curiosos: Leônidas teve sua chuteira rasgada, continuou em campo descalço e marcou, assim, um dos seus 3 gols contra a Polônia. Ainda nesta Copa, teve um gol de bicicleta anulado, pois o árbitro não conhecia a técnica que o próprio Leônidas havia inventado. O Brasil foi eliminado nas semifinais pela Itália por 2 a 1, jogo em que estava desfalcado do craque Leônidas, e terminou em terceiro lugar.
Domingos da Guia, lendário zagueiro rubro-negro e companheiro de Leônidas na Copa de 1938, um dos 3 jogadores mais badalados do país ao lado dele, na época, disse: "Leônidas foi o jogador mais perigoso que vi jogar e o mais difícil que já marquei". Não é à toa que quem o viu jogar considera melhor que Pelé. Mas como na época os jogos não eram televisionados, não dá pra saber quem tem razão. Ele retornou ao país consagrado por todos com desfile em carro aberto. No auge de sua popularidade, a empresa Lacta fechou um contrato com ele e passou a fabricar o chocolate Diamante Negro. Era o início da publicidade com a imagem do jogador, que hoje é tão comum. Por causa da sua elasticidade, também ganhou o apelido de "Homem Borracha".
Valente, impecável no drible, chute e cabeceio, era extremamente técnico, veloz e tinha ótima impulsão. Atuou em todas as posições do ataque do Mais Querido. Era capaz de criar grandes jogadas e produzir momentos inesquecíveis aos que o assistiam. O craque foi um dos responsáveis pelo meteórico crescimento de popularidade do clube naquele período. O que já era a alegria do povo, como vimos no post anterior da série, cresceu ainda mais. Um dos primeiros ídolos negros de todo o país, de todos os seguimentos, que contou com o Mais Querido pra quebrar barreiras e fazer história.
Em 1941, quando era considerado o maior craque brasileiro, Leônidas passou meses preso no quartel, com a descoberta de uma falsificação em seu certificado de alistamento militar. O episódio, somado ao seu temperamento forte, gerou uma série de desentendimentos com o presidente Gustavo de Carvalho, que o fizeram deixar o clube em 1942. Em 149 jogos com o Manto Sagrado, Leônidas fez 153 gols, tendo uma média de gols incrível, 1,03 por partida, a melhor do clube! É o 7° maior artilheiro da história do Flamengo.
Leônidas se transferiu para os Bambis paulistas por 200 contos de réis, na época uma transação milionária. Também fez história por lá, conquistando 5 Paulistas. Após se aposentar, virou comentarista esportivo de sucesso. Leônidas da Silva teve Alzheimer e a doença comprometeu sua saúde progressivamente. Morreu em 2004, aos 90 anos. Será para sempre uma jóia, um diamante rubro-negro!
Veja esta curta, mas bela homenagem ao Leônidas:
"Eu queria ser um poeta para poder te explicar,
mas não consigo traduzir o sentimento de amor que a gente tem pelo Flamengo."
Se não tivesse se desentendido com a diretoria do clube, certamente Leônidas estaria no elenco Tricampeão Carioca de 1942/43/44 e essa excelente média de gols seria ainda maior!
ResponderExcluirSRN!
Mais uma linda historia que voces nos proporcionam. Parabens pelo blog maravilhoso e ao responsavel pela postagem. Sao idolos que nem ao menos sabia que existiam. Todos os rubro negros deveriam conhecer nossa historia. Tem um carioca londrino presente neste espaco.
ResponderExcluirForte abraco!
Rafael, certamente ele conquistaria muito mais. Diferenciado, monstro dos monstros. Pena que ele mesmo participou de sua saída, indiretamente. Mas o destino quis assim. A história já havia sido escrita. Ele rompeu as barreiras do preconceito junto com o Mais Querido. E ele foi único jogador do Mengo na história a ser artilheiro de uma Copa. Quem viu, diz que foi melhor que Pelé. Mas acima de números e habilidades, ele foi rompeu barreiras e construiu uma linda história no Mais Querido. Eterno Diamante Rubro-Negro.
ResponderExcluirSRN